19/03/07

Por lá e por cá...a minha terra do nunca.


Ontem acordei com ideia de arrumar, aspirar, lavar e pendurar roupa.
Acordei e dei voltas e mais voltas na cama mas não me apeteceu levantar, deixei-me estar, abri a porta e os meus gatos entraram, aninharam-se por perto, quentinhos meiguinhos os dois.
Deixei-me ficar, voltei a dormir e voltei a acordar, levantei-me por fim. Mas não era ali que me apetecia estar, não era em casa, mas também não sei bem onde era.
Acho que não é num lugar que eu quero estar é num tempo que já passou.... Sim acho que é isso.
É naquele tempo eeee vivo por lá tantas vezes,
Naquele tempo em que éramos muitos, e éramos tão felizes.
Naquele tempo em que a palavra morte nem se pronunciava ou então estava longeeeeeee...
Naquele tempo em que os dias grandes era tudo porque mais ansiávamos,
Naquele tempo em que no inverno tinha cieiro nos lábios por tanto correr atras "deles" .
O tempo em que íamos de mãos dadas para a escola por causa dos carros.
O tempo em que o meu pai me parecia enorme e a minha mãe ainda não tinha cabelos brancos.
O tempo em que quando tinha um problema podia correr para os braços dela porque ela era a mais forte e protegia-me.
O tempo em que fazia de conta que ia dormir e acabava a noite a ver os filmes do Hitchcock a preto e branco ao lado dela.
O tempo em que na primavera o meu dia perfeito era ir apanhar e comer ameixas em casa do tio Quim,
Mudar as capoeiras dos coelhos,
Ver os pintainhos atras das galinhas,
Brincar com o Rex e o Tomix,
Comer doce de marmelo e pêra feito pela tia São,
Descobrir ninhadas novas de gatinhos na garagem em cima do citroen.
Naquele tempo em que éramos quatro mas éramos um só,
No tempo do Toninho metralha, do puto chirila, do conde bigodão e da viborazinha, sim… eu era a viborazinha como a minha mãe me chamava.
Os verões passava-os dentro das aguas frias da praia grande e da praia pequena com os meus óculos e o meu tubo de borracha, sempre roxa do frio, sempre a tremer e a dizer à minha mãe que não tinha nem fome nem frio para poder estar dentro de agua o dia todo, Era tão tão fixe.
O meu pai ia dando boleia a quem pedia enquanto havia espaço na wolkswagen pão de forma, ficávamos na praia até anoitecer víamos o por do sol enquanto a minha mãe lia e o meu pai nadava.

Aaiiiiiii, como me custa não estar por lá ainda.
Como me custa às vezes quando estou naquele semi-sono acordar e ver que não estou lá.
O Toninho Metralha já cresceu e já é um pai.
O Conde Bigodão é o melhor Pai que já vi.
O Puto chirila será puto para sempre.
E eu??????
…eu continuo disposta a trocar tempo desta vida por algum tempo ali, trocava tudo por um abraço apertado ao tio Quim,
dava tudo para ouvi-lo dizer OLÀ GAROTA, com aquela voz inconfundível.

Ali não há obrigações para alem da copia e das contas,
Ali as tardes “são” para brincar aos cowboys com o valter o Nelo o João e Xibanga o Vasco o Paulo e o Toninho ou para andar de bicicleta ate não aguentar mais.
Ali as feridas “são” tratadas pela minha avó com álcool e mercurocromo
Ali os gelados “são” melhores do que aqui
Ali ali aliiiiiiiiiiiiii


.....será que algum dia vou experimentar novamente tanta alegria como a daqueles dias, daqueles tempos, Será????

Talvez um dia quando tiver um puto só meu, talvez volte a sentir o mesmo, talvez volte a sentir a alegria incondicional…

Até chegar esse dia…vivo meio por cá, meio por lá porque lá sou tão FELIZ…

3 comentários:

Anónimo disse...

Com o tempo a felicidade muda de feições... às vezes pensamos que nos quer evitar, que se esconde de propósito. Mas ela continua por perto, presa ao nosso peito como um balão pelo fio à mão de uma criança. Sempre frágil, mas nunca fora de alcance.

Já há um tempo que não te via escrever assim.
Obrigado! :)

Sandra Marques Augusto disse...

Olha que lindo...
Sabes o que é isso? São saudades, tantas saudades...
E um dia, quando já não puderes estar com os teus pais e porque acontece a todos,nesse dia passas a estar "lá" todos os instantes, a cada respiração. "Lá" tornar-se-á a tua realidade e o futuro será apenas uma memória.
É assim comigo... a viver com ganas-de-vida para tornar "tangível" a realidade em que vivo, "lá".

Esta ideia da felicidade feita balão é tão bonita!
E fez-me lembrar todas as vezes em que o meu pai brincou connosco. E tenho saudades dele, "lá" onde ele vive...

Bj para ti menina-verde
S.Star

Sandra disse...

Saudade...

"The famous saudade of the Portuguese is a vague and constant desire for something that does not and probably cannot exist, for something other than the present, a turning towards the past or towards the future; not an active discontent or poignant sadness but an indolent dreaming wistfulness."

A. Bell in 1912